Diante de uma sociedade capitalista, que cobra empenho e adequação para que se tenha remuneração, percebemos as diferenças discrepantes do ponto de partida de cada indivíduo. Quando levamos em consideração etnia, regionalidade, orientação sexual e outras questões, podemos visualizar as desigualdades que afetam o tal “empenho e adequação” de cada pessoa dentro de um mesmo grupo. Para alguns existe a necessidade, implícita, de silenciar partes importantes de seu próprio ser, para que possam fazer parte de um grupo específico, seja de trabalho, estudo ou colegas. A partir desta ideia, levanta-se o termo Desbatismo cunhado por Tamandaré, da etnia Tupi, em um debate religioso a respeito de imposições feitas a pessoas indígenas no decorrer da história.
Esta performance artística é uma exploração profunda de uma jornada de autoconhecimento e redescoberta. Após anos reproduzindo as expectativas e imposições da sociedade, é preciso reconectar-se com suas raízes, identidade e poder, os quais foram apagados. Os elementos cênicos remetem a retomada do poder pessoal de escolhas do indivíduo, comunicando isso ao abandonar sua máscara e se manter em suas pernas de pau, que podem ser interpretadas como um objeto de poder e grandiosidade.
Desbatismo busca não apenas contar uma história individual, mas também abrir espaço para diálogos e reflexões mais amplas sobre as experiências compartilhadas por muitas pessoas negras, LGBTQIAP+ e periféricas em nossa sociedade. Durante a performance, o protagonista mergulha em uma série de experiências físicas e emocionais, através do circo e manifestações da diáspora, que refletem sua jornada de autodescoberta.
Ele se liberta gradualmente das expectativas externas e estereótipos impostos pela sociedade, confrontando suas próprias inseguranças, traumas e conflitos internos. Por meio de gestos, movimentos corporais e expressões faciais, o protagonista expressa a complexidade do eu e as camadas de sua experiência de vida. Compartilha momentos de dor, resistência, resiliência, mas também de esperança, alegria e celebração de sua cultura e herança.
A performance acontece em um espaço marcado pela juventude mogiana, onde o protagonista se encontra em um ambiente que reflete a história pessoal e cultural de diversos jovens.