Atravessado por reflexões sobre qual o nosso lugar no mundo. Fugindo dos padrões já esperados de uma vida heteronormativa, com privilégios, de um emprego, direito à saúde, a lazer, a uma vida amorosa respeitada pelos pais, a existência do próprio ser sem precisar lutar pela sobrevivência e (re)existência de cada dia.
Um pequeno recorde de um artista independente, homem cis, porém um gay delicado, afeminado, não passável aos padrões da normatividade, um nordestino distanciado de suas origens, se entendendo enquanto um homem não branco, apesar de pele mais clara, e alguém que não corresponde com as expectativas do que é esperado de um mundo à sua volta: a igreja, a família, os trabalhos convencionais, os conservadores, os bons costumes, a um governo que não olha para além dos seus gabinetes.
Para alguém que não se encaixa nos lugares, se pergunta: Para onde ir? Onde existir? Onde viver? Sendo quem se é e não abrindo mão dos seus ideais, daquilo que acredita. Será que é errado? Será que é realmente incompreendido? Será que consegui comunicar aquilo que realmente pensa? Ou será que apenas não é interessante ser ouvido? E se domesticar, seria possível conviver com o que seria o ideal, o aceitável?
São perguntas provocadoras a pensar nessa performance.
Inspirado na música de Pitty, no qual a canção da cantora fala sobre uma suposta rendição a um sistema e a indústria pop, só que mesmo assim se mostra e continua resistindo em ser Bicho Solto. Correlacionando a performance da saudosa artivista travesti paulistana Claudia Wonder (1955-2010), considerada um poderoso símbolo de luta e (re)existência da comunidade LGBTQIA+, apesar de diversas portas fechadas por afirmar sua identidade como pessoa travesti, permaneceu, forte em seus propósitos ampliando espaços de comunicação e unindo grupos do punk e do rock underground dos anos 70 e 80 em São Paulo. Em uma de suas canções entoa “Vem pra barra-pesada!”, resignificando o termo de algo “errado”, “suspeito”, “perigoso” que foi descoberto.
Através dessas poéticas e histórias próprias como ponto de iniciativa para essa nova criação “Bicha Solta: Qual o lugar que lhe cabe?”. Com a voz entoando “Bicho Solto” da cantora Pitty fazendo um paralelo com Bicha Solta que reivindica ser e é, mesmo que algumas vezes precisa se moldar. Utilizando-se de figuras para composição de imagens que tragam esse lugar de uma tentativa do pertencimento, de algumas vezes se ver em situações de performa uma normatividade não pertencente. E um rompante com o lado selvagem que existe do ser quem realmente é. No qual trás pela primeira vez em experiência essa performance.